Moonlight de Barry Jenkins

Os Óscar nem sempre são bons. Tantas vezes os filmes escolhidos, quer para shortlist, quer como vencedores, não são os mais dignos exemplos da arte de fazer Cinema. Lembrem-se de Shakespeare in Love ou de Chicago, apenas para citar dois exemplos sofríveis. Mas, outras vezes, acertam. É sempre com prazer que recordo-me de O Senhor dos Anéis, cujo esforço cinematográfico de uma enorme equipa criativa foi recompensado de forma sublinhada, eterna e mais do que merecida. Prémios são prémios, sem dúvida, e eles raramente são reflexo da qualidade e, mais importante que tudo, do papel na Historia de alguém ou de alguma coisa. Lembrem-se que Hitchcock, já várias vezes reconhecido na sua genialidade pelos pares, críticos e público, nunca recebeu um Óscar. Mas, lá está, a História pouco quer saber de prémios - ainda que também possam contribuir para isso, nem que seja porque estar na shortlist ou ser vencedor de um Óscar aumenta a visibilidade (momentânea) de um filme. O que é o caso deste maravilhoso Moonlight  de Barry Jenkins.

Depois de, no ano passado, os Óscar terem sido criticados pela falta de diversidade étnica, sexual e de género, eis que, em 2017, corrigem-se sublinhadamente e, ainda por cima, com qualidade a este nível. Moonlight é a história de uma comunidade afro-americana, de um rapaz cuja inclinação sexual o transforma em alvo de perseguição e chacota e de como, esse mesmo rapaz, tenta vencer todas as barreiras que estas duas circunstâncias lhe impõem. Barry Jenkins não desculpa ninguém nem transforma quem quer que seja em vítima inerte das circunstancias. Existe reacção. Existe grito, ainda que o protagonista seja (muito) parco em palavras. Existe, acima de tudo, poesia no silêncio, nas acções e nos olhares, no carinho, na resistência e no amor entre duas pessoas,. Amor que persiste mesmo na passagem do tempo e na distância que a vida alonga. O filme assume a palete de cores do luar, suavizando a experiência, certo, mas transformando-a também em algo mais perene, mais duradouro. A poesia do olhar tem a vantagem de unir as diferenças e este Moonlight é mestre nessa Arte. A Arte de transformar todas as experiências em humanas. 

Com uma realização eloquente, fotografia arrebatadora e interpretações emotivas constrói-se um filme que merece todas as nomeações e prémios que possa receber. Temos realizador e temos Cinema. 

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