Ready Player One de Steven Spielberg

Steven Spielberg, o inventor do blockbuster, regressa a esse estilo de cinema inventado por si mas agora pertencente aos super-heróis e a outras fantasias adolescentes e pré-adultas. Veio testar a sua capacidade de ser ainda capaz de produzir filmes gigantes, máquinas de fazer dinheiro que Hollywood e os seus produtores perseguem sofregamente. Os filmes cresceram tanto em custo e expectativas de bilheteira que é cada vez mais difícil avaliar o que são êxitos e fracassos. É por isso que não é o trabalho de um crítico ou apreciador de avaliar o percurso financeiro de um filme, mas antes de dizer se acha bom ou mau, relevante ou não, se gosta ou não. No que a mim diz respeito, Spielberg está de volta, e logo no estilo de filmes que criaram a sua fama e que inaugurou com Jaws (considerado o primeiro blockbuster, no sentido moderno do termo).

Ready Player One, baseado nos romances de Ernest Cline, é entretenimento puro com pitada de auteur. Não só é um filme super-divertido, como não deixa de ser da assinatura de Spielberg. Nele pairam as manias do realizador: o geek/sonhador que vence tudo e todos, especialmente a figura paternal autoritária, destruidora/aproveitadora dos sonhos infantis; a família (qualquer que ela seja) como o cerne do relacionamento humano; uma América corporativista que aproveita-se do que os outros construíram, apropriando-se, de forma hipócrita e interesseira, dos gostos que nunca partilharam. Estas mensagens são colocadas de forma mais ou menos subtil e mais ou menos óbvia. Contudo, nem o mais pedante dos intelectuais deixará de ser tocado pela ligeireza, candura e honestidade com que Spielberg desmonta uma máquina que ele próprio alimenta (se ler uma crítica do Público, provavelmente mudo de ideias quanto a isto). Também nesse aspecto temos o regresso do melhor Spielberg Versão Entretém desde há muito tempo. O Professor está de regresso e dá uma lição a todos os alunos.

Este filme é, acima de tudo, o sonho molhado de geeks de cultura pop espalhados pelo mundo inteiro (eu sou um deles). É um elogio à cultura que tem sido a base de muito do que melhor (e pior) produziu-se em Cinema (e merchandise, e desenhos animados, etc.) nas últimas décadas. Um elogio feito por um dos maiores e mais importantes geeks do mundo.  É um divertimento infantil descobrir e identificar todas as referências, todas as personagens, todos os easter eggs espalhados e que referenciam inúmeros mundos desta cultura - encontrei duas referências à minha  Mulher-Maravilha, por exemplo: uma no casaco de uma personagem e outra, bem mais difícil de encontrar, a ver com George Pérez - encontrem-na, se conseguirem.

Escolham uma boa sala de cinema e deliciem-se com este maravilhoso carnaval da cultura pop. Sejam crianças.

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