The Square (O Quadrado) de Ruben Östlund

Ruben Östlund já tinha surpreendido com o maravilhoso Force Majeure, um filme sobre comportamentos primais em situações de perigo.  Três anos depois, volta a fazer o mesmo com este O Quadrado, parte do que poderia ser um díptico sobre a moralidade dos comportamentos humanos. Sobre a imagem que projectamos em condições civilizadas e aquilo que realmente somos quando confrontados com situações, extremas ou não, do nosso dia-a-dia. É também uma critica não muito subtil ao mundo da arte contemporânea, aos que vivem dela e aos que a produzem. Na junção orgânica destes dois mundos, somos forçados a entrar neste filme-instalação-de-arte, onde temos de nos questionar se seríamos ou faríamos diferente das personagens que nos aparecem no grande ecrã. 

O Quadrado é a história de um homem, curador de um dos mais importantes museus de Estocolmo, divorciado e pai de duas raparigas, que vive numa confortável qualidade de vida e possui comportamentos sustentáveis - tem um Tesla. O seu museu irá apresentar uma instalação de arte baseada num Quadrado delineado no chão. Dentro desse quadrado, a artista propõe o seguinte: naquele espaço não existem fronteiras nem diferenças entre seres humanos, e todos os que necessitaram de alguém ou de algo podem pedi-lo a outro e esse outro terá de satisfazer o pedido. Este poderoso pressuposto será alvo de uma campanha de marketing para a qual o museu contrata uma equipe de jovens publicitários, versados neste mundo moderno da net e da atenção fugaz.

Östlund equilibra de forma brilhante o enredo e a mensagem através de casos inusitados que, muitas das vezes, pendem para o hilariante. O realizador socorre-se do humor para sublinhar as diferentes situações, quer sejam desconfortáveis ou não. Por vezes, estica esse desconforto até ao ponto em que a vontade de rir desaparece e dá lugar a uma sensação de vergonha existencial - principalmente no maravilhoso jantar de inauguração da exposição. Sem qualquer tipo de artifícios de câmara ou de efeitos especiais, recorrendo apenas ao simples enquadramento, mise en scéne e edição, o realizador é veemente na apresentação de um conto moral, cheios de conotações que podem mesmo parecer pretensiosas. Os actores vertem para o ecrã toda a intenção da história, destacando-se o trabalho do protagonista, Claes Bang, mas também o aparecimento de dois actores mais conhecidos do público em geral (ou, se calhar, nem tanto), Elisabeth Moss (dos Mad Men e Handmaid's Tale) e Dominic West (do The Wire e 300).

Não tenham dúvidas de que estamos a falar de um dos grandes filmes do ano. Um conto moral cheio de humor e desconforto, como provavelmente todos os contos morais devem ser. Deve ser por isso (também) que venceu a Palma D'Ouro de Cannes em 2017.

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