MOTELx - Cold Hell e Animals

O festival MOTELx 2017, a decorrer entre os dias 5 e 10 de Setembro, é um dos momentos cinematográficos mais esperados da rentrée e do Acho que Acho. Vamos lá estar e tentar vos dar uma apreciação dos filmes que teremos a sorte de ver. Passem por aqui todos os dias!



Comecemos pelo melhor: Cold Hell de Stefan Ruzowitzky Violetta Schurawlow. Notaram algo de diferente? Raramente (e mal) menciono o actor principal quando refiro a autoria de um filme. Contudo, como o próprio realizador o referiu na entrega do Prémio Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d'Argent do MOTELx de 2017, a sua protagonista é Cold Hell. É a sua presença física e psicológica, mesmerizantes e arrebatadoras, que monopolizam os olhos do espectador e motivam a narrativa.

Um assassino em série assola as ruas de Viena e a personagem de Violetta presencia as cenas finais da morte violenta de uma prostituta. O assassino enceta uma perseguição que os levará pelas ruas da capital austríaca, mas isso é apenas parte do enredo de Cold Hell. O verdadeiramente cativante é a personagem principal, "Özge, (...) uma jovem taxista de origem turca, estudante de noite e ambiciosa lutadora de Muay Thai". Ela é uma força da natureza, um portento de luta contra uma sociedade racista e misógina, silêncio e contenção sempre na expectativa de explosão. E a explosão acontece por várias vezes, com violência física e verbal desalinhada e desconcertante. Ela é o produto de um passado marcado pela tragédia, pelo abuso, mas não se resigna ao papel de vítima. Não existe o cavaleiro virtuoso que salva a donzela. Ela é sangue, fúria e vingança. Ela decide o seu destino. Ela desbrava o seu caminho. E Violetta Schurawlow não gagueja em casa passo sólido da personagem, entregando-se ao papel de forma total e incontida. O filme é o que é graças à sua prestação. A realização "limita-se" a deixá-la explodir ou a observar as suas feições grávidas de raiva. Só por isso mereceu o Mélies D'Argent.

Animals de Greg Zglinski, por seu lado, não funciona. Procura ser uma narrativa surreal e labiríntica de uma relação conjugal em crise, mas acaba por perder-se no enigma que cria (perdoem-me o mau trocadilho). O casal é alemão, ela é escritora, ele cozinheiro. Relações sexuais não existem e ele trai-a repetidamente. Decidem afastar-se para uma casa nas montanhas da Suíça, não só para reavivar o amor e desejo como também para procurar outras abordagens às suas vidas profissionais. A narrativa assume a não-linearidade desde cedo na história mas sempre em detrimento das personalidades, que ficam mal-formadas para além do estereótipo. Se procurava seguir a linha de Lynch, Buñuel, Jodorowsky, falha redondamente.  Era um dos canditados ao Mélies D'Argent.

Faço ainda uma menção ao vencedor da Melhor Curta de Terror Portuguesa/Méliès d’Argent 2017,  Thursday Night de Gonçalo Almeida. Não vi as outras curtas mas esta foi particularmente bem escolhida. Um filme parcimonioso mas sumarento, com fotografia exemplar e capacidade de edição superior. Pouco posso dizer sobre a narrativa, correndo o risco de a estragar. Apenas refiro que é sobre um cão de nome Bimbo e sobre uma visita que recebe no meio da noite com uma mensagem muito importante. Francamente bom!

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