Force Majeure de Ruben Östlund (Força Maior)

É impossível sair deste filme sem nos colocarmos um conjunto importante de questões. Não só as típicas "o que queria isto tudo dizer?" mas outras, mais relevantes. Virarmo-nos para quem tenhamos ido vê-lo e perguntar, point blank, "o que farias tu?", "o que pensas da reacção dela?", "o que pensas da reacção dele?". É impossível não nos sentirmos envolvidos de uma forma quase primal com o que acontece, com as reacções e com as consequências de ambas. A história de Force Majeure é uma força da natureza, uma alusão aos instintos primários de sobrevivência e de convivência social, ironicamente passada numa estância de férias de esqui, num resort de luxo, linhas rectas e decoração minimalista como palco do drama. 

Um casal sueco (a nacionalidade é muito importante) e os seus dois filhos, decidem (ou melhor, a mulher terá decidido) passar cinco dias na dita estância de férias. Aparentemente, o homem trabalha demasiado e dedica pouco tempo à sua família. Num falso idílio, pacífico pelo ambiente de  conforto e luxo da estância, tentam aproveitar as horas que podem dedicar a si mesmos e aos seus próximos. Até o momento em que, num almoço numa esplanada do Hotel, presenciam o avanço de uma avalanche controlada. A princípio, o pai conforta a restante família, apontando tratar-se de uma ocorrência comum mas, à medida que a parede de neve se aproxima, o medo cresce dentro de todos. No momento em que a avalanche está a metros, o pai levanta-se, agarra no telemóvel e desaparece em pânico, deixando filhos e mulher para trás. Agora percebem as primeiras palavras deste post?

Qualquer outro avanço que vos posso fazer em relação à história é retirar-vos o prazer de a ver. Não que o filme se alicerce na sequência de eventos surpresa. Antes prefere o caminho da emoção, a início controlada e depois exacerbada. Como se assistissemos a uma metamorfose. Ao vermos o desenrolar da história, sistematicamente recorremos não só à nossa personalidade para nos questionarmos quanto à reacção  mas também à nossa identidade cultural. Será que um latino reagiria da mesma forma, ou melhor, pela mesma sequência de emoções? Contudo, esta não é a mais importante das questões, apenas um dentre muitos cenários que se escrevem na duvida. 

A realização de Ruben Östlund é absolutamente extraordinária. Desde o primeiro plano, cada cenário, cada enquadramento, não se restringe apenas em fornecer cenário e palco, mas a espelhar as emoções, a construir tensão. O ambiente asséptico do Hotel contrasta com o drama que se desenrola dentro e fora das paredes, aumentando a claustrofobia, sublinhando a situação - como diz a mulher, "nós num Hotel tão luxuoso e eu a sentir-me tão infeliz.". A escolha estética de Ruben Östlund lembra o ambiente de  The Shining, não só pelo local escolhido, pelo drama familiar, mas também pelas linhas rectas, pelo referido minimalismo claustrofóbico.

É impossível não recomendar fortemente este filme, para mim um dos melhores do ano e um dos melhores que vi.

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