Birdman de Alejandro González Iñárritu

Iñarritu é conhecido pelas opções inesperadas que faz nos seus filmes. A surpresa pode passar por histórias aparentemente simples, personagens complexos ou narração idiossincrática. Um dos seus melhores filmes, Amor Cão, optava por uma forma de ver a passagem do tempo muito semelhante à de Tarantino. Babel seguia pelo caminho de que "todos as histórias do mundo estão ligadas" e de que "o bater de asas de uma borboleta no Japão cria um tufão no meio do Pacífico". Birdman, por seu lado, estará no rol do cinema mais conseguido do realizador.

Um actor de filmes de super-heróis, o apropriado Michael Keaton (bem vistas as coisas, ele foi o primeiro actor da "era moderna" do super-herói do Cinema, com o Batman de Tim Burton), está à procura de ressuscitar velhas glórias ao mesmo tempo que tenta livrar-se do estigma de Hollywood e filmes pipoca. Opta por escrever e protagonizar uma peça de teatro na Broadway em Nova Iorque. Um tentativa para, paradoxalmente, capitalizar da fama que ainda tem por ter sido Birdman e estrelar numa peça digna de actores "sérios".  O tema não é universal, ou seja, cinge-se a um microcosmos que por mais conhecido que seja da opinião mainstream não deixa de focar em problemas que não afectam a maior parte de todos nós. Contudo, a acessibilidade do conflito dos personagem, o argumento envolvente e as prestações excepcionais dos actores mais do que compensam essa fraca relação. 

Iñarritu escolhe disparar para todos os lados na arte de ser actor e de ser realizador na Hollywood dos dias de hoje, governada pelos franchises e pelos super-heróis. Mas o pedantismo dos que odeiam ou invejam a máquina hollywoodesca também não escapa ao olhar do realizador, que esgrime argumentos e provocações também para este outro lado do espectro.

O que é ser actor num filme de efeitos especiais? O que é ser actor quando um filme é feito de múltiplos takes e múltiplos ângulos e onde a voz do realizador é a última palavra? Onde o actor não tem controle sobre qual o melhor take , qual a melhor entoação de voz, onde tudo é decidido na sala de montagem pelos devaneios da história e ditames do realizador? Será por querer não esquecer o actores que Iñarritu escolhe para este Birdman uma opção narrativa muito pouco convencional? O filme simula uma peça de teatro. É filmado num único e longuíssimo plano, a câmara perpetuamente a seguir os actores de sala para sala, de cena para cena. Durante as duas horas de duração. Só assim nos apercebemos do trabalho excepcional dos atores, que carregam o filme às costas do seu talento. Claro que Iñarritu não está ausente, porque ao optar por esta forma de "escrever" a história assina de forma sólida o seu nome e a sua visão. Uma visão que constrói um filme verdadeiramente singular.

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