O que vou lendo! - Astro City, Through Open Doors de Kurt Busiek, Brent Anderson e Alex Ross

Já tinham passado alguns anos desde a última vez que esta maravilhosa série de Busiek, Anderson e Ross deu ar da sua graça. A interrupção entre este e o volume anterior foi longa, principalmente tendo em consideração as saudades que me provoca de cada vez que está ausente. Comecei a colecionar a série desde o primeiro livro, já nos idos do final da década de 90. Sempre foi um dos meus maiores prazeres de leitura de BD, uma mistura perfeita entre o que de melhor a literatura de super-heróis pode oferecer, uma reflexão meta-textual deste tipo de personagens e maravilhamento puro e duro. Os três autores não só baralharam arquétipos como o Super-Homem, Mulher-Maravilha, Batman, Quarteto Fantástico, Liga da Justiça, Homem-Aranha, etc., fornecendo a sua muito própria visão sobre eles, como construíram de raiz um mundo maravilhosamente imaginativo e, finalmente, nos dão uma perspectiva que é de todo única no panorama desta arte.

O grande conceito por detrás de Astro City não é exclusivamente o da perspectiva dos super-heróis mas antes a do "homem comum", daquele que observa estes feitos maiores que a vida, que tem medo, admiração, inveja, maravilha, pelos homens e mulheres que voam e balançam-se por cima de suas cabeças. Busiek e Ross inauguraram esta "visão" com a conhecida obra Marvels (publicada há uns anos atrás pela Vitamina BD e que agora vai ser republicada pela Levoir/Público) mas, em Astro City, junto com Brent Anderson, elevam-na para níveis de qualidade incomparáveis. Primeiro que tudo, constroem o seu próprio universo, desde o Big Bang até às profundezas do centro da Terra, passando pelas ruas e habitantes da cidade titular, ficando aí, explorando todos os seus segredos. Segundo, cada novo volume é mais um grão de areia na gigantesca praia que os três autores constroem aos poucos e poucos. Cada novo conceito, cada novo personagem é, ao mesmo tempo, familiar e inovador. Eles vão ao fundo do baú das memórias coletivas da BD americana e de lá sacam novas perspectivas sobre velhos amigos e amigas. Obviamente que para os apreciadores da Arte este é um repositório riquíssimo de referências meta-textuais mas mesmo o leitor casual pode retirar preciosidades de cada leitura.

Felizmente, Astro City tem uma nova casa na lendária editora Vertigo - que, contudo, e mesmo com a adição desta obra, está longe dos seus dias de ouro. Este primeiro volume desta nova era é mais do mesmo e, neste caso, mais do mesmo é o maior elogio que eu posso dar. Busiek, Anderson e Ross continuam a  tocar de forma magistral os instrumentos que fazem a melodia das ruas de Astro City. Não perderam força e inspiração, muito pelo contrário. Desta vez começaram mesmo a experimentar com um tema bastante comum na literatura de super-heróis: a ameaça cósmica e multi-universal. Pequenas / grandes pistas começam a ser dadas desde a primeira página deste novo volume. Mas, reforço, sem perder um átomo da acessibilidade ou da sensibilidade e perspectiva que descrevi nos parágrafos anteriores. Esta é a prova que ainda bem que existem trabalhos destes a serem publicados, trabalhos que devem ser acompanhados, devorados e publicitados. Porque só com livros destes pode a BD continuar a ascender.  


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