O que vou lendo! - Ekho Monde Miroir volumes 1 e 2 - New York e Paris Empire


(isto vai parecer estranho)

Encontrei um personagem de BD provavelmente perfeito para a Beyoncé. Eu sei que a famosa cantora-actriz-performer-dançarina-etc. gostava mesmo era de ser a Mulher-Maravilha mas, para o bem e para o mal, esse papel já tem protagonista.  Este é, de facto, um desejo premente da senhora Knowles, tanto mais se dermos uma olhada a alguns dos excelentes (sim, leram bem, excelentes) vídeos que acompanham o seu mais recente e muito badalado novo álbum. Neles aparecem, amiúde, alusões claras e às vezes não muito claras à minha querida Diana de Themyscira, sublinhando o amor que a famosa cantora dedica à mais famosa das super-heroínas. Não temas, minha cara Beyoncé, se tu ou alguns dos teus conhecidos tiver dotes de ler a melhor língua do mundo (leiam-se, o português), aqui fica o meu conselho: pede aos agentes ou capangas, ou lá o que quer que tenhas como ajudantes, para darem uma olhada na excelente e muito divertida BD Ekho, le Monde Miroir, e pode ser que te enamores de Fourmille Gratule e do maravilhoso mundo espelho, Ekho

(isto tudo apenas possível se os franceses não se passarem por ter uma americana a protagonizar um filme baseado num personagem das suas terras. Mas, vejam a minha lógica, se um dia acharem que vale a pena sequer passar esta excelente BD para o grande ecrã, vai ser necessário muito dinheiro e um nome como a Beyoncé assegura orçamentos elevados. Food for thought!)

(vamos agora ao que interessa)

Fourmille Gratule e Yuri Podrov viajam juntos num voo intercontinental entre Paris e Nova Iorque, quando são misteriosamente transportados para um mundo paralelo de nome Ekho graças à intervenção de uma estranha criatura de nome Prehauns. Estes seres, uma espécie de esquilo versão Disney mas não muito fofinho,  não só parecem ser advogados, já que informam a menina Granule de que é receptora de uma estranha herança, como  são também os monitores da curiosa ordem deste mundo paralelo. 

Acontece que em Ekho a electricidade não foi descoberta e, se estão a pensar "mas como raios é que eles aterraram em Nova Iorque?" não tenham medo. Neste mundo, dragões são um dos preferenciais meios de locomoção local, nacional e intercontinental, centopeias gigantes funcionam como Metropolitano, em suma, estamos defronte de um mundo a meio caminho entre o fantástico e o quasi-Steampunk, um mundo deliciosamente concebido pelas imaginações delirantes dos seus dois autores, Christophe Arleston, na escrita, e Alessandro Barbucci, no desenho. 

Como é verdadeiro e louvável apanágio da BD franco-belga, esta é totalmente a província do autor. Ainda que a americana seja muitas vezes injustamente julgada exclusivamente pelos super-heróis, não estamos longe da verdade quando afirmamos que na franco-belga é dada maior latitude à imaginação dos criadores e menos às imposições editoriais (excepto, actualmente, para grande nomes como Astérix, no seu mais recente álbum, por exemplo).  BD's como este Ekho provam exactamente essa teoria. 

Nesta BD não vamos ter labirínticas confabulações sobre o sentido da vida mas antes um aventura verdadeiramente enternecedora e divertida envolvendo uma protagonista cheia de pêlo na venta, decidida, por vezes até um pouco irritante, enquanto se mete de corpo inteiro num mundo maravilhoso que só dá vontade de habitar. Ao seu lado, temos uma pletora de coadjuvantes também eles verdadeiramente divertidos, a começar pelos deliciosos mas misteriosos Prehauns, pelo interesse amoroso mas também parte integrante do enredo de nome Yuri Podrov, pela dançarina exótica Grace Lumumba, etc.  Cada volume passa-se numa versão reimaginada de uma famosa cidade mundial, sendo o primeiro em Nova Iorque e o segundo em Paris. Tudo isto servido pelo fantástico desenho de Alessandro Barbucci, que é um verdadeiro virtuoso do corpo humano, da arquitectura, da construção narrativa em BD (em Portugal já o vimos, por exemplo, em Skydoll da Vitamina BD).

Esta, meus amigos, é uma excelente prenda de Natal e, quem sabe, um dia a vejamos no nosso português.

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