Primavera Sound – Don’t let the fuckers get you down



Este é o meu Primavera Sound. O do Porto, que começou Quinta, dia 30 de Maio e acabou ontem, dia 1 de Junho. E que foi fenomenal! 

(leiam também o excelente relato da Cassete Riscada... acho que vale mesmo a pena fazerem-no).

Já sou galo semi-velho nestas coisas de andar pelos festivais à caça de música. Já virei alguns frangos, para trocar de metáfora e continuar pelos aviários. Por burrice, não fui ao Primavera do ano passado, ainda que estivessem a passar por lá nomes que, na altura, estava doido para ver (The Weeknd era um deles). Por esperteza, não falhei ao deste ano e tive a sorte de ter estado num dos melhores festivais da minha vida - apesar de, como já disse, ter visto uns quantos ao longo dos anos. Foi por causa da música, foi por causa da companhia, foi por causa do espaço, foi por causa do ambiente, tudo combinado para que tenha desfrutado e gozado de bom som, com calma, amplitude, tranquilidade, sem o frenesim adolescente de ir ver este cantor e mais aquele grupo, de uma forma tão caótica que tudo se misturava numa confusão de cor e sons que acabavam por serem esquecidos (excepto pelos verdadeiramente memoráveis). No Primavera não foi assim. Foi relaxe e salto, misturados num único local e por alguns dias.

E, claro, houveram os momentos memoráveis de música, que é para isso que lá vamos.

No primeiro dia, no meio de tantos concertos, houve um que, sem esforço, se colocou acima de todos os outros: Nick Cave and The Bad Seeds. Em jeito de confissão, nunca fui um fã, nunca ouvi nenhum álbum até este – e excelente - último e, claro que estão à vontade para dizê-lo, fui incrivelmente burro. Como posso descrever um dos melhores concertos que já vi na vida? Como se reduz às palavras a arte dos sons, daquele corpo franzino do Tio Nick a esticar-se e a convulsionar-se enquanto dedicava canções “to everybody”? Como dizer que Jubilee Street, que é celestial em LP, é deliciosamente diferente e igualmente boa em palco? Como dizer que ele podia ter cantado mais duas horas que nós não nos cansávamos? Depois dele, todo o dia se apagou, ainda que os Wild Nothing tivessem se esforçado, que os saudosos Dead can Dance me tivessem recordado dos tempos de liceu ou que James Blake tenha sido vaporoso e magnífico.

(para vossa informação lembro-me sempre de Moloko no Sudoeste, ela grávida e frenética, de Nitin Sawhney da altura do Prophesy na Aula Magna, de Lamb, quando Portugal os idolatrava, também na Aula Magna, de Moby, da primeira vez que cá veio, quando o Play ainda não tocava ad nauseum; isto para forçar a memória de apenas alguns)

O segundo dia foi todo ele Blur que, graças a deus, voltaram a ser quatro e que tocaram, sem esforço, em modo frenesim, em êxtase, quase todos os álbuns da sua carreira. Parece que quiseram agradar a todos, ainda que se tenham esquecido de mim (adorava ter ouvido Ambulance, mas pronto, não se pode querer tudo). Não houve palco, espaço, relva, ar o suficiente para conter 20 anos de canções e idolatria acumulada. Ali todos se juntaram na música Blur, sem idades e gerações. Que tudo se foda, o que interessa é a música.

Este dia não podia estar completo sem o antes de Blur, porque eles não existiram sozinhos neste lugar e neste dia. Houve (para mim) Local Natives (boa novidade, não conhecia e estou a ouvi-los no momento em que vos escrevo isto), Grizzly Bear (talvez noutro lugar goste mais deles ao vivo, mas se calhar gostar deles em álbum é suficiente) e Four Tet (momento chill out com vontade de sair e dançar. Devia tê-lo feito).

Chegou o último dia! Depois de dormir num banco de jardim no Porto (a idade é lixada), ainda que a cama do hotel fosse mais confortável, lá se foi, pela margem do Douro, autocarro 500, para o encontro com o segundo melhor concerto de todo o Primavera (sim, o Tio Nick não foi destronado). Antes DELAS ouvi estes: Paus (gosto, foi a minha terceira vez em dois anos, mas já não era altura de terem qualquer coisa nova?); The Sea and the Cake (agradável mas sem rasgos); Explosions in the Sky (baterias em modo tribal levam-me sempre na certa).

E. Finalmente. Savages. Graças a um bom amigo meu, tive a sorte de conhecer o álbum destas londrinas há umas semanas atrás e estava com vontade de as ver. Punk-rock cheio de guitarra, bateria e suor, uma coisa que faz lembrar tantos outros sons e tantos outros tempos mas que é, mesmo assim, cheio de novidade (ou será nostalgia?). E ao vivo elas são destruidoras, sexy sem ser sexuais, loucas, grandes e sólidas como um murro. A baterista, meu deus, a baterista! Essa pulguinha eléctrica que obrigava a que o seu instrumento tivesse que ser recolocado, colado com fita, aparafusado repetidas vezes, esse menina vai me pagar a próxima conta do médico da coluna. 

O Primavera acabou com a melhor frase com que poderia ter acabado, com a vocalista, a francesa Jehnny Beth, a gritar “Don’t let the fuckers get you down”. Amen, sister!

E agora...de volta ao trabalho.

(PS – porque elas merecem, vejam o vídeo de baixo com as meninas Savages a cantar deliciosos 8 minutos de Fuckers)




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