Será este um filme geracional?
Ao fazer esta pergunta provavelmente estou a revelar que não
pertenço à geração “retratada” em Spring breakers
mas… e vamos lá dizê-lo uma vez mais… será este um filme geracional? Aqui não
há tweets, mensagens de facebook, savoir-faire tecnológico que tanto frustra pais e avós, não existem
os “telltale signs” típicos de uma
narrativa que possa, hoje em dia, gabarolar-se de ser geracional. Existem antes
jogos de computador, excessos, idolatria pelo cinema e distanciamento por ele
provocado. Mas não será isso, pura e simplesmente, um relatório sobre a idade?
Springbreak é uma
época do ano (Primavera, claro) em os adolescentes estado-unidenses correm em
magotes para o estado da Florida, onde se dedicam a noites e dias de deboche,
bebedeira e jogos sexuais, num caleidoscópio de experiências e diversão
generalizada non-stop. Quatro raparigas de uma universidade querem
(naturalmente) muito ir e, sem dinheiro, decidem assaltar um despersonalizado
restaurante de fast-food franchisado.
Tudo corre bem e, acto contínuo, passam alguns dos melhores dias das suas vidas
nas terras solarengas da Florida. Até que são presas e a sua fiança paga por um
pseudo-gangster local (maravilhosamente interpretado por James Franco, cada vez
melhor). A partir daqui tudo muda.
Spring breakers é sobre
distanciamento, sobre a dessensibilização quase física que graça por uma
geração que vive num filme pipoca exibido em repetição no multiplex, ou que gere os acontecimentos como num jogo da Playstation. Existem duas sequências no
filme, a do assalto e outra que prefiro deixar à descoberta, em que vemos a
acção por olhos que processam informação como se tivessem a passar para o próximo
nível de um jogo. O filme relata uma experiência à distância dos
acontecimentos, como se, tal como nos filmes, as consequências não existissem,
apenas o hedonismo e a repetição, com algum improviso, de frases retiradas de filmes
como Scarface (aqui citado) ou Pulp Fiction. O final feliz, a redenção
das jovens, a confissão aos pais, se assim quiserem, ocorre antes do fim do
filme, antes do clímax e “batalha final”, como se esta não fosse importante,
como se não houvesse risco de acabar mal.
Em resposta à minha própria pergunta, sim, este é um filme
geracional mas também algo mais, algo intangivelmente universal, como se sempre
soubéssemos que as coisas são assim. E, para um filme tão sexual, tão cheio de
corpos nus a adivinhar a relação, é estranho que não haja (quase) nenhum sexo.
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