Side Effects de Steven Soderbergh

Ver um filme sem propositadamente conhecer a história, tem as suas vantagens. Quando o prazer de ir ao cinema ou de ler um livro se substitui ao conteúdo dos mesmos pode, muitas vezes, trazer-nos inesperados prazeres. Por isso detesto que me contem o que quer que seja das surpresas que esse filme ou esse livro possam trazer e, por vezes, isso estende-se à totalidade do conteúdo narrativo. Neste Side Effects foi rigorosamente isso que aconteceu. Entrei na sala de cinema apenas com o mínimo de informação: o nome do realizador; alguns dos atores; era falado em inglês. A partir daí, tudo foi uma surpresa.
 
E que fantástica surpresa!
Muito sinceramente, no que respeita à história e enredo (que podem consultar em outros sites da especialidade), é tudo quanto me reservo o direito de explicar. Pode ser que, após estas breves palavras, sintam a coragem de pagar o bilhete e entrar na sala virgens de qualquer outra coisa que não sejam as informações que eu próprio disse que tive. E pode ser que tenham a mesma sensação. Ou não!
Soderbergh tem feito algumas ondas já que anunciou ir abandonar a 7.ª arte, sendo este o seu último filme. Está neste momento a preparar uma série de TV para a HBO (a mesma cadeia de TV por cabo que nos deu Os Sopranos, The Wire, Game of Thrones e True Blood) que consta ser o canto do cisne deste emblemático realizador independente. Chama-se Behind Candelabra. Curiosamente, a série era para ser um filme, mas a história, que relata a vida de Liberace, com Michael Douglas e Matt Damon nos papéis principais, foi considerada demasiado gay pelos executivos de Hollywood.
Com este Side Effects, Soderbergh não larga da sua assinatura imagética e narrativa, com planos minimalistas e elegantes, onde as palavras são sussurradas, os ambientes caldos mas, paradoxalmente, frios, vítreos. Todos os personagens e décors são colocados num mise en scéne estudado e distante, providos de hermetismo anti-séptico mas francamente belo, ou melhor, atraente. Esta estética existe desde sempre, tendo atingido um interessante apogeu com Confissões de uma Namorada de Serviço (2009), onde deu protagonismo mainstream (se é que disso se pode chamar este belíssimo filme) a uma atriz pornográfica, Sasha Grey.
Com já o disse entro em completo desserviço para com o apreciador de cinema se lhe revelo qualquer outro pormenor deste filme, portanto, apenas posso reiterar que já se trata de um dos meus favoritos do ano.

Sem comentários: