Foi recentemente publicada a última colecção do conjunto de
12 volumes que encadernam em formato capa dura a história que Matt Fraction, escritor, e Salvador Larroca, desenhista, talharam
para Tony Stark, o conhecido Homem de Ferro (Iron Man, no original). Começaram a parceria no mesmo ano do
lançamento do primeiro filme (2008), que à data trouxe reconhecimento mainstream a este desconhecido
personagem da Marvel. Graças a uma
excelente prestação de Robert Downey Jr,
aos obrigatórios efeitos especiais ao serviço de uma história escorreita e,
claro, ao charme deste personagem criado na década de 60, a Marvel iniciou uma carreira
cinematográfica que tem dados frutos não só ao nível da qualidade mas também das
finanças.
Nesse mesmo ano foi então relançada a revista deste
personagem, entregando-o a um escritor que se havia destacado na produção
independente com títulos pós-modernistas como Casanova (actualmente a sair pela chancela também da Marvel) e Salvador Larroca, nada novo nestas andanças. O que saiu desta
colaboração foi um Tony Stark ao
mesmo tempo verdadeiro à sua essência mas também moderno, vanguardista, como
convém a um homem que é a mistura de Steve
Jobs elevado à enésima potência com George
Clooney, o arquétipo do playboy
suave, acessível e incrivelmente charmoso. O Homem de Ferro de Fraction
é um futurista, um homem que talha, pela inteligência e engenho, como vamos
ler, como vamos navegar na net, conduzir, poupar energia. Literalmente, cria o
futuro. E graças à linha de Larroca,
a tecnologia usada é cristalina, limpa, asseada, acabada de sair da fábrica,
como num anúncio filmado na Côte D’Azur.
Em contraponto, os adversários são temíveis e implacáveis, como convêm sê-lo
neste mundo de altos riscos e altos ganhos. E não se limitam ao vilão do
costume, muito pelo contrário. Aqui os inimigos são corporativos, altos
gestores em concorrência cerrada. Não há superpoderes que possam valer, apenas
a inteligência, o savoir faire, o trompe l'oeil, a disputa de vontades nas
esferas da finança e intriga empresarial. Um mundo onde um CEO como Tony Stark movimenta-se como veludo.
Não sendo o maior fã do personagem que existe, depois de alguns
anos sem o ler regressei com este trabalho. No passado li as mais emblemáticas
histórias na vida do personagem (as de Michelinie,
Byrne, Busiek e Ellis, nomes reconhecidos
pelos leitores ardentes de BD), mas nunca me senti particularmente identificado
pelas qualidades e personalidade de Tony
Stark. Mas, graças ao filme e a esta série, ganhou uma vida nova, percebi tratar-se
de um personagem incrivelmente bem talhado para este século XXI, o da internet,
o da informação à velocidade da luz, das grandes corporações, das inovações
tecnológicas que nos mudam o modo de vida. E Fraction e Larroca fazem
uso e usufruto dessa adaptabilidade, tendo-me obrigado a lê-los do princípio ao
fim. E aí reside também uma outra vantagem deste trabalho, a possibilidade que nos
oferece de ler uma única história, com algumas das obrigatórias interrupções inerentes
ao universo compartilhado dos super-heróis mas ainda assim descomplicada e com alto
nível de entretenimento e de reflexão. Assim deu gosto de ler o Homem de Ferro.
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