Silver Linings Playbook (Guia para um final feliz)


Silver Linings Playbook (Guia para um final feliz) de David O. Russell

O realizador é já conhecido de outras andanças, sejam elas ironias pós-modernistas sobra a nova guerra (Three Kings – Três Reis de 1999), psicadelismos existenciais (I Heart Huckabees - Os Psico-Detectives de 2004) ou o obrigatório filme da perseverança humana usando como pano de fundo o Boxe (The Fighter – Último Round de 2010).

Este “Guia para um final feliz” nada tem a ver com os anteriores filmes do realizador, enquadrando-se no estilo romântico de que todas as artes preenchem os interstícios com contos atrás de histórias atrás de enredos. Centra-se (obviamente) num casal, ele bi-polar e a recuperar de uma traição da que ainda considera ser sua mulher, ela a lidar com a morte extemporânea do marido polícia. Nas fronteiras deste improvável romance coabita um carnaval de coloridos coadjuvantes (rica aliteração). Os pais dele, uma mãe compreensiva e (perdoem o pleonasmo) maternal, e o pai, Robert de Niro, no papel de um idoso americano suburbano, tentando sobreviver ao desemprego usando como apoio um esquema de apostas de futebol americano. A irmã dela, uma típica dona de casa suburbana, uma potencial soccermom, esforçada castradora do marido, interpretada por uma impecável Julia Stiles fora do seu ambiente. Isto para apenas falar dos mais importantes.

O forte do filme é a história, perturbada por homens e mulheres que passeiam defeitos e virtudes, e tocando alguns dos motes preferidos de um certo estilo americano como seja a família, a individualidade e a diferença como força de resgate. Apesar de parecer uma parada de clichés, pela força dos actores, pelo enredo e pelo claro olho de Russel, o filme passa apenas tangencialmente pelo corriqueiro e assume-se como uma deliciosa história de amor que dá gosto e prazer de ver. A realização de Russell opta por alguns recursos estilísticos interessantes, como o frenesim da câmara no início do filme ou o delicioso plano final de afastamento dos amantes. E o talento dos vários intervenientes carrega o filme para um excelente porto.

Parece existir aqui um comentário à América, às suas famílias, ao estilo de vida do país que tanta atracção exerce. Os personagens parecem não só representar personalidades individuais mas também arquétipos de uma América dividida entre a tradição e o modernismo, isto tudo metido no caldeirão da crise económica e filosófica deste início da década de 10 do século XXI.

Verdadeiramente redentor! Para os lamechas! E quem diria que factos sobre desporto debitados à velocidade de metralhadora fossem tão inequivocamente românticos.

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