Melhores do Cinema 2012 - 10.º a 6.º


10– Detachment de Tony Kaye (O Substituto) - ex-aequo


Adrian Brody há muito que não escolhia um filme onde as suas excelentes capacidades como actor fossem tão óbvias. O filme, relato de um professor substituto num liceu americano perdido nos problemáticos subúrbios americanos, incha-se de pequenas e grandes histórias de sacrifícios diários desta classe, ao mesmo tempo que a realização dança pelas imagens, diálogos e solidões de forma virtuosa. Um pedaço de redentora maestria. Incorre num problema ao provavelmente concentrar demasiados episódios num único espaço e tempo, mas não em detrimento da suspensão da descrença. Um pérola ainda em exibição.

10– Holy Motors de Léos Carax - ex-aequo
Um dos queridos da crítica neste ano, a início saí do filme com um amargo de boca. Contudo, esta colecção de sketchs profundamente cinematográficos, esta parada alegórica e surrealista de momentos do cinema, ganhou consistência, como um sonho mal recordado, e recuperou-se como um dos meus favoritos do ano. Existem momentos que dançam a perigosa valsa da beleza e da repulsa, mas sem cair, sem descompassar. Episódios como o do motion capture da cópula entre serpentes-demónio ou do Quasímodo e da Bela Eva Mendes, ficaram-se indelevelmente. E qualquer filme está de bem comigo quando consegue, sem preconceitos e no meio desta nuvem surreal, aludir ao filme Cars da Pixar.



9 – Avengers Assemble de Joss Whedon (Vingadores)
Podem achar estranho a listagem deste filme mas, ainda que reconheça alguma descriminação positiva, não consigo deixar de o considerar como um dos mais interessantes e divertidos filmes de 2012. O tema abordado é do meu profundo conhecimento (acompanho estes personagens na BD há 35 anos) mas Joss Whedon conseguiu a proeza de surpreender e entusiasmar este leitor ávido da 9.ª Arte. Verdadeiramente, os Vingadores ganharam vida, a transição de papel para movimento foi suave, sem soluços e taxativamente enternecedora, pelo amor dedicado, pelo (claríssimo) conhecimento das personalidades que estavam a ser transpostas. Desculpem o lugar-comum, mas queria eu que todos os filmes de acção, os chamados tent-pole, fossem assim, com o coração do lado certo do dinheiro.



8 – Enter the Void de Gaspar Noé
O sucessor de Irréversible de 2002 demorou a sair quer da cabeça do realizador argentino Gaspar Noé quer nas salas de cinema portuguesas (este Enter the Void é de 2009), mas ainda que não tenha conseguido reproduzir-me a inacreditável sensação de ver o primeiro no Festival do Cinema Francês de 2002, não deixa de ser um pedaço corajoso de estética cinematográfica. Um filme longo (161 minutos), ainda mais se nos for estranha a escolha de Noé em filmar exclusivamente na primeira pessoa, sempre o mesmo personagem, primeiro vivo e depois morto. Quando uma troca de droga em Tóquio corre mal e o protagonista é abatido pela polícia, o que se segue é uma viagem geográfica e induzida de realismo mágico, enquanto acompanhamos o fantasma num voo pelas ruas, prédios e pessoas da capital japonesa. Nunca a filosofia da reencarnação foi tão explicitamente retratada. Vejam-no e compreenderão melhor esta minha última frase.



6 - Un Amour de Jeunesse de Mia Hansen-Love (Um Amor de Juventude) - ex-aequo
Que nome tão banal. Que história tão corriqueira. Mas a execução? Essa é sublime. Não sei porque uma história tão simples de um amor que começa jovem para se fazer velho me tocou tanto (algo arrasta-se na minha mente). Talvez porque é um elogio à mulher e à rendição que dedicam ao Amor? Porque nos ternos olhos da protagonista já se desenha o fim, nunca triste mas profundamente realista, por causa dos personagens desenhados. Os filmes de amor adolescente não podem ser todos assim, e ainda bem que o não são, mas este, este é transcendente.



6 – Amour de Michael Haneke (Amor) - ex-aequo
Não consegui resistir a colocar estes dois filmes, tão díspares, tão o reflexo um do outro, na mesma posição. Incrivelmente diferentes, pela maturidade dos protagonistas, do realizador e da abordagem, se fossem vistos em sequência não se perderia em nada (uma double feature de lovexploitation). Ambos abordam o Amor (sim, com letra grande), o que ele na realidade significa, o que na realidade obriga, o que na realidade impõe. E, também interessante, um retrata a Mulher enquanto na ausência do Homem amado e o segundo, este de Haneke, trata do Homem enquanto na ausência (esta não tanto física mas mental) da Mulher amada. Há um lado voyeurista e paulatinamente intimista deste retrato que o realizador faz da entrega e sacrifício do marido ao sofrimento da mulher, numa longa sequência que explica o que acontece depois do “e viveram felizes para sempre”. Ainda que se “limite” ao retrato obsessivamente realista duma situação, não deixa de sair desse seu auto-imposto limite e transcender-se para a universalidade dos sentimentos e das situações. Um filme de crueza desconcertante mas arrebatadoramente envolvente.





Sem comentários: