Sessões de Quinta e O Bom de ser português. Tomo segundo.

Mou gaan dou II (“Os Infiltrados II”)



A escolha desta semana há muito que era adiada. Por nenhuma razão em particular. No meio de tantas escolhas para as nossas sessões, esta iria acontecer mais tarde ou mais cedo. Todos já tínhamos visto o primeiro “Infiltrados”, acho que por volta de 2004, quando passou no Quarteto na sua versão original legendada. O meu fascínio pela cinematografia oriental uma vez mais me arrastou para uma sessão que, mais tarde, não me viria a arrepender de modo algum. “Infiltrados” era uma obra-prima. Um filme narrativamente irrepreensível e sobre o qual tinha ficado com a leve impressão que bebia inspiração a fontes tão dispares como a literatura Noir, a tragédia clássica e os universos da máfia e dos gangsters.

Passam-se os anos e um dia deparei-me com o mesmo filme numa conhecida loja de aluguer e decidi, sem prestar particular atenção, trazê-lo. Não passei dos primeiros minutos. O filme era dobrado em inglês. A blasfémia!

Só recentemente tive o prazer de revê-lo na fabulosa caixa que saiu em 2007 e que incluía todos os filmes da trilogia. Desta vez, na língua original, sem dobragem. Já há alguns meses que tinha se reavivado a tentação de o ver outra vez, virtude do “remake” de Martin Scorcese, “The Departed”, vencedor de Óscares. Tinha a leve impressão que o “remake” nem de longe nem de perto se equiparava à versão original. E após rever o primeiro filme da trilogia, dei razão a mim mesmo. Desculpem os que adoram o filme de Scorcese e o próprio Scorcese. “The Departed” é um filme normal. Bom, mas normal. “Infiltrados” é genial.

“Infiltrados II” é mais do mesmo. O que quer dizer que é excelente. Estamos agora todos curiosos aqui no "Eu cá...Acho que acho!" para ver o III.

Todos os personagens do primeiro filme voltam: o policia chefe; o rei do crime em Hong Kong; os dois infiltrados. E a temática continua a mesma. O dever, a lealdade para com as diferentes famílias que os levam a confrontos nada díspares daqueles focados no “Hamlet” da TV, “Os Sopranos” (Até que enfim! Finalmente consegui colocar uma referência à minha série de TV favorita). Os personagens movem-se numa teia enredada pelo destino e, por mais que se debatam, de um modo ou de outro, o seu final já se encontra desenhado desde o inicio. A inexorável e implacável caminhada está já traçada, sem apelo nem agravo, até o inicio do primeiro filme. Nada resta senão deixar os dominós caírem. E o que poderia ser minado de enfado, torna-se num exercício genial e num prazer em ver.

Esta dimensão trágica torna-se numa das maiores forças deste filme e, provavelmente, de toda a trilogia. E por isso ergue-se a um patamar que, para mim pelo menos, não foi possível atingir com “The Departed” de Scorcese.

Adiamos o nosso “eu cá...acho que acho” final para o número III. Mas, se 2 em 3 acertarem, já não é uma média nada má.

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